VISITA IMAGINÁRIA AO ESTABELECIMENTO PRISIONAL DE BEJA

 

 

EXTERIORES

Circundante ao próprio edifício, existe um pequeno jardim, frente à porta principal, que não nega a tristeza e a solidão, e a escuridão que se vive dentro daquelas 4 paredes brancas, com pequenos quadrados cravados nas paredes, envolvidos em barras de ferro. Continuando a circular junto ao edifício (a única parte acessível às visitas, exceptuando a sala das mesmas) encontramos um terreno bravio, abandonado e enfeitado pela própria natureza, mais à frente, existem 2 casotas, para os cães do Estabelecimento Prisional, por sinal muito meigos. O edifício branco, na sua parte traseira, é contornado por uns muros brancos, quase tão altos como o próprio edifício, e no cimo desses muros estende-se um tapete de vidros, completamente partidos ao acaso, para que quem tente trepar esse muro, não pule de lá sem as provas do crime.

 

Porta Principal - Avançando para a porta principal, esta é verde, um verde seco e mórbido, com a espessura de um corpo humano, com um pequeno postigo gradeado, batemos à porta, mas esta não se abriu sem que primeiro alguém da vigilância espreitasse, por esse mesmo minúsculo, e nos pedisse a nossa identificação.

 

INTERIORES

Avançando...

Entrámos...

 

Acompanhadas pelos Guardas Prisionais, estes dirigem-nos para o Gabinete do Director.

Par a par caminhavam connosco a curiosidade e a expectativa. Para a elaboração desta visita imaginária contamos, muito especificamente, com os relatos do Director deste mesmo Estabelecimento.

 

SALA DE VISITAS - "...Paredes brancas, vazias, porta verde escuro ao fundo, vidros foscos, bancos corridos de madeira, encostados a cada parede e nada mais.."

É neste minúsculo compartimento, a que chamam sala de visitas, e que, por incrível que pareça, 40 reclusos partilham os seus poucos momentos de privacidade (aqueles que têm visitas!)

 

Continuando...

O Director leva-nos numa viagem imaginária aos interiores do Estabelecimento. "...No primeiro corredor deparamos com um enorme gradão que dá acesso à zona prisional dos homens...". "...Como refeitório, e sala de recreio, serve uma antiga capela, de pequenas dimensões, onde os reclusos também podem ver televisão, até à hora de encerramento das celas...".

 

CELA - No interior da zona prisional, para além das 42 celas existentes, há, na ala esquerda, uma pequena cantina onde os reclusos podem adquirir produtos de primeira necessidade. Dentro de uma cela existe:

"...Um lavatório, um armário, camas de ferro, uma ou duas, uma sanita e um poliban."

Como é feita a distribuição dos reclusos, nas várias celas? "...Estão 2 por cela, não tenho conhecimento de estar algum recluso sozinho numa cela. No entanto, no caso do recluso querer estar sozinho, por uma questão de se sentir mais à vontade, tentaremos satisfazer o seu pedido." "...Fechada a porta da cela, ou da gradeação, o recluso dispõe de uma janela gradeada, por onde entra a luz vinda do pátio do recreio...".

 

CAMARATA - "...No 1º andar deste edifício existe uma camarata, a única deste Estabelecimento, com capacidade para 8 camas...".

 

ESCOLA - "...Existe uma escola que funciona numa antiga capela...".  Também aqui se faz sentir a inevitável presença das grades.

 

BIBLIOTECA - Chamam biblioteca a um cubículo interior com pouco mais de 2 metros quadrados, onde se misturam algumas centenas de livros, pouco procurados pelos reclusos, talvez por falta de motivação e incentivação.

"...Na conjugação do cinzento e branco das paredes, o cimento gelado do chão e a rigidez do gradão vivem os agregados desta sociedade contraditória, onde os homens são vítimas de outros homens..."

 

PÁTIOS INTERIORES - Existem 3 pátios interiores a céu aberto, quer isto dizer, onde os reclusos, no seu recreio, podem beneficiar, dentro daquelas 4 paredes, de um pouco de liberdade, ao brilhar do sol, contrapondo-se à escuridão e frieza existente no Estabelecimento.

Existem 2 pátios laterais, um em cada extremo do Estabelecimento, tendo como barreira e protecção, os muros brancos. E ainda um pátio central no meio do edifício, também este a céu aberto, que se encontra contornado pelas celas dos reclusos.

Segundo estas fontes e comentários de alguns reclusos, este é o momento mais frustrante, o momento em que realmente eles sentem verdadeiramente o cumprimento da sua pena e simultaneamente a privação da liberdade.

"...Ver o sol a brilhar, os pássaros a voar, ouvir o movimento dos carros lá fora, e ter que imaginar tudo, um resto do mundo em constante movimento, enquanto eu, impávido e sereno, assisto, aqui à luz ou lá dentro na escuridão, a todo este movimento, é o que mais me custa, e quando oiço os gritos das crianças vindas da escola, é o momento em que desejo arduamente que o tempo passe e que eu volte a ser livre, a ver o sol, sem ser por estas 4 paredes brancas infernais, eu quero viver aquele momento e aquele mundo lá fora...dói, dói muito, é para mim o pior momento da vida de um recluso...".